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Em um mundo onde a busca por significado e conexão profunda muitas vezes se perde em meio ao caos da vida moderna, o Tantra emerge como um farol, iluminando um caminho ancestral de autoconhecimento, união sagrada e expansão da consciência. Mas o que é o Tantra, e como essa filosofia milenar pode nos guiar em direção a uma vida mais plena e satisfatória?
O Tantra é uma filosofia comportamental e milenar, baseada na experiência prática, na ação e na conexão com o corpo e os sentidos. Em vez de focar apenas em conceitos abstratos, o tantra enfatiza a vivência direta e a exploração das sensações. Ele transcende a mera busca pelo prazer sensorial e se apresenta como uma jornada transformadora que integra corpo, mente e espírito, convidando-nos a abraçar a totalidade da nossa existência.
Essa abordagem pode ser comparada ao uso da tecnologia: assim como usamos nossos celulares e a internet para nos comunicarmos sem necessariamente entender os detalhes técnicos por trás disso, o tantra nos convida a nos conectarmos com nós mesmos e com o mundo de forma direta e intuitiva, sem a necessidade de compreensões intelectuais complexas.
Ao desafiar as dualidades e os limites impostos pela mente, o Tantra nos conduz a estados de consciência expandida, onde a energia vital flui livremente e a união com o divino se torna possível.
Essa tradição mística enfatiza a união do indivíduo (jiva) com a Consciência Suprema (Shiva) através da prática do yoga, da meditação e da contemplação.
Um dos pilares centrais do Tantra é o conceito de Kundalini, a energia primordial adormecida na base da coluna vertebral. O despertar da Kundalini, através de práticas como o Tantra Yoga, a meditação e a respiração consciente, leva à expansão da consciência, à ativação dos chacras (centros energéticos) e à união com o divino.
No entanto, é fundamental conhecer um pouco de sua teoria e história, a fim de entender suas origens e objetivos.
As raízes do Tantra remontam ao Shivaísmo da Caxemira, uma escola filosófica não-dualista que floresceu na região da Caxemira, no norte do subcontinente indiano, hoje dividida entre a Índia, o Paquistão e a China.
O termo “Caxemira” descrevia historicamente o vale ao sul da parte mais ocidental do Himalaia, entre os séculos VIII e XII.
O tantra surgiu há mais de 5 mil anos na cultura Drávida, povo que habitava o vale do rio Indo, região que hoje corresponde ao Paquistão.
Embora muitos associem o tantra à Índia e não ao Paquistão, é importante lembrar que o Paquistão fazia parte da Índia até sua divisão em 1947.
A sociedade Drávida era matriarcal, valorizava a sensorialidade e não repressora dos seus impulsos naturais. A transmissão dos ensinamentos tântricos ocorria oralmente, e suas práticas buscavam a iluminação através da ativação da energia kundalini.
A energia Kundalini, também conhecida como energia vital ou sexual, reside na base da coluna vertebral, próxima à região genital. Em seu estado “adormecido”, essa energia aguarda ser despertada.
Quando ativada, a Kundalini ascende pela coluna, culminando no topo da cabeça. De acordo com a filosofia tântrica, essa ascensão completa leva à iluminação, representando o objetivo máximo do tantra.
A ativação da Kundalini promove uma conexão profunda com nossa essência e potencial interior, resultando em maior autoconfiança e poder pessoal.
Na cultura Drávida, a dualidade entre “bem e mal” ou “certo e errado” não era objeto de julgamento. Essa sociedade compreendia a polaridade como elemento essencial para o equilíbrio.
Cada indivíduo era reverenciado como uma divindade, merecedor de respeito e exaltação. As mulheres, em particular, eram veneradas por sua capacidade de gerar e nutrir novas vidas.
O povo Drávida, partindo da visão de interconexão entre o interno e o externo, buscava compreender seu mundo interior através da observação da natureza. Tudo era percebido como uma representação simbólica.
A vida meditativa e a não repressão de impulsos eram valores centrais dessa cultura e diversas práticas contribuíam para o objetivo principal do tantra, a iluminação. Entre elas, destacavam-se a conexão com a natureza e seus elementos, a alimentação vegana e frugívora, além de práticas como mantras, respiração, meditação e Maithuna (sexo tântrico ou união sexual entre homem e mulher), também conhecida como Mahamudra (grande gesto).
No Maithuna, a união entre homem e mulher simbolizava a fusão das energias masculina (Shiva) e feminina (Shakti) dentro de cada indivíduo, representando a não dualidade e a união de opostos como luz e sombra, bem e mal e representando a totalidade do ser.
A palavra “tantra” em sânscrito significa “trama”, “tecer” ou “teia”, ilustrando a interconexão de tudo o que existe. O tantra é uma filosofia inclusiva, que acolhe todas as experiências sem negar ou rejeitar.
No tantra original, o corpo não é visto como um obstáculo para a iluminação, mas sim como um caminho para alcançá-la. A própria etimologia da palavra “tantra” reforça essa ideia:
O tantra promove a expansão da consciência e a libertação de condicionamentos, em vez da repressão. Por isso, é fundamental abandonar o julgamento dualista entre bem e mal, certo e errado. A experiência direta e a exploração consciente são as ferramentas que conduzem ao verdadeiro conhecimento e à transformação.
Nessa perspectiva, tudo é sagrado, pois todos fazemos parte da mesma teia cósmica. Luz e sombra, corpo e mente, inclusive os genitais, são considerados sagrados.
Originalmente, o tantra era transmitido de forma iniciática, entre mestre e discípulo. Há cerca de 850 anos, seus ensinamentos foram registrados nos “Shastras” (escrituras sagradas).
Com a invasão dos povos Arianos entre 2.000 e 1.750 a.C., a cultura matriarcal e desrepressora dos Drávidas foi suprimida, seus ensinamentos silenciados, esquecidos e distorcidos.
Esses ensinamentos foram se misturando em várias vertentes filosóficas e religiosas, como o taoísmo, o yoga, o vedanta, o hinduísmo, o jainismo, o budismo, entre outras e nenhuma dessas correntes são de fato o tantra original.
O Neotantra é uma nova compreensão do Tantra, desenvolvida e publicada por Osho nos anos 60. O Neotantra é uma filosofia ocidental nova, influenciada pelas tradições orientais do Tantra.
O Neotantra tem raízes em elementos dos tantras hindu e budista, e combina interpretações da Nova Era com perspectivas modernas ocidentais.
Além do Tantra tradicional, o Neotantra incorpora elementos e influências da psicologia moderna de Wilhelm Reich, da terapia corporal de Alexander Lowen e da espiritualidade ocidental do Mestre Osho, que trouxeram novas perspectivas sobre sexualidade, energia vital e cura emocional.
Osho, um mestre espiritual controverso e carismático, popularizou o Tantra no Ocidente, destacando seu potencial para promover liberdade, êxtase e celebração da vida.
Lowen, criador da Análise Bioenergética, aprofundou a compreensão da conexão entre corpo, mente e emoções, enfatizando o papel do movimento e da respiração na liberação de traumas.
Reich, pioneiro da terapia corporal e da orgonomia, explorou a relação entre energia sexual, saúde física e mental, e a importância da livre expressão da energia vital para o bem-estar integral.
O Neotantra busca tornar os ensinamentos tântricos acessíveis ao mundo moderno, oferecendo ferramentas práticas para o autoconhecimento, a cura emocional, o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis e a expansão da consciência.
O Tantra, como uma tradição viva e dinâmica, evoluiu ao longo dos séculos, adaptando-se a diferentes contextos culturais e espirituais, surgindo novas vertentes.
Essas novas vertentes subdividiram o tantra em diversas classificações, classificadas em cinco “cores”, que representam diferentes abordagens e práticas:
Embora o tantrismo branco possa parecer mais “espiritual”, ele frequentemente envolvia repressão, como a crença de que a liberação do sêmen era algo errado ou pecaminoso.
É importante ressaltar que essas subdivisões do tantra, como o branco e o vermelho, são, na verdade, distorções do tantra original, que era uma filosofia inclusiva e não-repressiva.
É importante ressaltar que essas classificações são fluidas e podem se sobrepor, e que cada praticante pode encontrar seu próprio caminho dentro do vasto espectro do Tantra.
Outra distinção importante dentro do Tantra é entre o Tantra da Mão Direita (Dakshinachara) e o Tantra da Mão Esquerda (Vamachara).
O Tantra da Mão Direita segue uma abordagem mais ortodoxa e ritualística, enfatizando a pureza, a disciplina e a observância de normas sociais e religiosas.
O Tantra da Mão Esquerda, por outro lado, desafia convenções e tabus, explorando práticas como o consumo de carne, álcool e a transgressão de normas sexuais, como forma de transcender as limitações do ego e alcançar a libertação.
O Kaula Tantra, uma corrente tântrica que floresceu na Índia medieval, é um exemplo de Tantra da Mão Esquerda. Essa tradição mística utiliza práticas como rituais sexuais, consumo de substâncias alucinógenas e meditação em cemitérios para romper com as amarras da mente e acessar estados de consciência não-ordinários.
Um relacionamento tântrico é uma união profunda que visa acelerar a evolução espiritual de ambos os parceiros. Esse foco na espiritualidade é o que distingue os relacionamentos tântricos de outras dinâmicas de relacionamento contemporâneas.
O Tantra também oferece uma perspectiva única sobre os relacionamentos, enfatizando a importância da comunicação autêntica, da vulnerabilidade, do respeito mútuo e da exploração consciente da energia sexual.
Relacionamentos tântricos ensinam o Amor Verdadeiro e como cultivá-lo tanto individualmente quanto dentro da parceria. Isso pode levar a uma abertura profunda do coração e a uma intimidade intensa no nível da alma.
O Tantra auxilia o casal a transcender superficialidades e fachadas, alcançando uma conexão genuína e profunda, e, em última instância, guiando cada indivíduo em sua jornada espiritual em direção ao Divino.
A massagem tântrica, por exemplo, é uma prática que utiliza o toque consciente e a respiração para aprofundar a conexão entre os parceiros, despertar a energia sexual e promover o relaxamento profundo.
O Tantra também pode ser aplicado à filosofia comportamental, oferecendo insights sobre como cultivar relacionamentos mais harmoniosos e satisfatórios.
Ao aprendermos a observar nossos padrões de comportamento, a comunicar nossas necessidades de forma clara e a acolher as diferenças do outro, podemos criar conexões mais profundas e duradouras.
“O objetivo final dos relacionamentos tântricos é a evolução espiritual mútua dos parceiros.”
A energia sexual é uma das forças mais potentes do universo, presente em todos os seres vivos. Os tântricos antigos reconheceram seu imenso potencial criativo e energético, e descobriram que, quando canalizada de forma específica, essa energia pode impulsionar a pessoa a estados elevados de consciência e dimensões espirituais.
Eles compreenderam que a energia sexual, quando cultivada e utilizada corretamente, pode funcionar como um “reator nuclear” interno, capaz de conduzir o praticante a realidades espirituais alternativas e, por fim, à união com o Divino. O sexo tântrico une sexo e espiritualidade, transcendendo a experiência puramente física.
A sexualidade tântrica oferece uma forma sagrada de sexualidade, proporcionando acesso a orgasmos profundos e espirituais, tanto para homens quanto para mulheres.
A prática do Tantra permite que os praticantes desenvolvam uma sensibilidade aguçada ao toque, à respiração, à energia, às vibrações e às nuances emocionais do parceiro.
A presença plena e a transmutação da sexualidade em uma experiência holística conduzem a estados de bem-aventurança e êxtase contínuo, transformando o ser e a percepção da realidade. O sexo tântrico promove uma conexão mais profunda consigo mesmo e com o outro.
“O interesse dos mestres tântricos pela energia sexual não se baseava em obsessão pelo sexo, mas sim pela busca da iluminação.”
O Tantra oferece uma ampla gama de práticas que podem ser adaptadas às necessidades e objetivos de cada indivíduo. Algumas das práticas tântricas mais comuns incluem:
A prática regular do Tantra pode trazer inúmeros benefícios para a saúde física, mental, emocional e espiritual, incluindo:
Antes de explorarmos os mistérios do Tantra, é crucial entender o que ele não é.
Primeiramente, Tantra não se resume a sexo. Embora existam ensinamentos sobre sexo e sexualidade dentro do vasto escopo do Tantra, estes representam apenas uma pequena fração do conhecimento tântrico, cerca de 5% a 10%.
Em suma, o Tantra é um sistema complexo e multifacetado, e a sexualidade é apenas um de seus muitos aspectos.
“O Tantra é muito mais amplo e abrangente do que a sexualidade. Para visualizar melhor, imagine o Tantra como uma árvore antiga e frondosa, com inúmeros galhos. O sexo tântrico é apenas um desses galhos, que contribui para a totalidade da árvore, mas não a define por si só.”
Tantra não é uma religião, mas sim um sistema espiritual não denominacional, acessível a qualquer pessoa com a atitude e dedicação adequadas.
Enquanto as religiões são exotéricas, voltadas para as massas, o Tantra é esotérico, direcionado a um círculo interno de praticantes. Seus escritos, ensinamentos e práticas são propositalmente obscuros, acessíveis apenas aos iniciados que alcançaram certos níveis de realização e consciência espiritual.
Tradicionalmente, os ensinamentos tântricos autênticos eram transmitidos oralmente, de mestre para discípulo, após longos períodos de preparação, prática e purificação. Atualmente, essas jóias espirituais estão mais acessíveis aos buscadores espirituais modernos.
Dogmas e credos não têm lugar na tradição tântrica. O Tantra é uma “autociência”, um estudo prático do eu. O mestre transmite os ensinamentos e técnicas, mas cabe ao praticante realizar sua própria jornada tântrica para colher os frutos da prática.
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O Tantra é muito mais do que um conjunto de práticas e técnicas. O tantra é um caminho de transformação, um convite para explorar as profundezas de nosso ser e descobrir o potencial infinito que reside em cada um de nós.
Ao integrar corpo, mente e espírito, o Tantra nos oferece ferramentas para transcender as limitações do ego, curar nossas feridas e manifestar nossa verdadeira natureza.
Se você busca uma jornada de autoconhecimento, libertação e conexão profunda, o Tantra pode ser o caminho para você.